Conto Zenelista: "A Guerra dos Doces"

Na repartição reinava o silêncio. De repente, aparece a doceira Maria Chocolateira, gritando:
- "Quem quer brigadeiro? Sobrou só um!..."
Foi o bastante: duas servidoras, cada uma beirando seus 50 e poucos anos, se levantaram ao mesmo tempo e começaram um duelo verbal de proporções épicas:
- "Esse brigadeiro é meu!"
- "Pode esquecer, pois ele já tem dona!"
- "Ah, é?"
- "É!"
- "Então, toma!!"
- "Tum!"
- "Soc!"
- "Pow!"
- "Crek!"
- "Pum!" (Opa, foi mal!)
- "Tum!"
- "Soc!"
- "Pow!"
- "Crek!"
(...)
Passados uns 20 minutos de socos, pontapés, aranhões e puxões de cabelo, o resultado final da tragédia: as duas estavam caídas no chão! Desmaiadas, desacordadas, desfalecidas...
E o brigadeiro? Ora, caiu no chão! Foi pisoteado, esmagado. Estava irreconhecível!
O Cartório havia se transformado num verdadeiro coliseu romano à época de César!
Recolhidos os corpos, adentrou no confuso recinto o Seo João, livreiro antigo, morto de fome, caquético, caindo aos pedaços...
Mas tinha energia para, ainda, balbuciar seu velho mantra:
- "Quem quer livros? Livros: o alimento da alma!..."
(Passaram-se 15 segundos... 30 segundos... 1 minuto...)
E nenhum filho-da-mãe levantou a mão para pedir um exemplar! Desconsolado, o velho deu meia-volta e se mandou. Também, pudera, num mundo repleto de futilidades, as pessoas querem mais é encher o buxo e esvaziar o "cébro"...
Duas horas depois, surge a figura de Dona Gorette, quituteira de mão cheia, gritando:
- "Quem quer quindim?... Quem quer quindim?..."
Como homem culto, elegante e sofisticado que sou, aproveitando o ensejo e, principalmente, a ausência das duas funcionárias gulosas, fui logo avisando:
- "Me separa um!... Me separa um!..."    


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